21.3.10

POEMA: "AULA DO KAMASUTRA"

Edmund Dulac

André Simões divulga a cultura árabe no seu blogue SOBRE AS RUÍNAS. Um espaço que visitei hoje, DIA MUNDIAL DA POESIA, e onde li este belíssimo poema de um autor da Palestina, Mahmud Darwish (1941-2008).
Partilho-o nas duas versões:


Com um copo com embutidos de lazúli
espera por ela

Sobre o lago em volta da tarde e o perfume de flores
espera por ela

Com a paciência do cavalo pronto para descer a montanha
espera por ela

Com o bom gosto do príncipe magnífico
espera por ela

Com sete almofadas cheias de nuvens leves
espera por ela

Com o fogo do incenso mulher enchendo o lugar
espera por ela

Com o cheiro do sândalo homem em redor do dorso dos cavalos
espera por ela

E não tenhas pressa, e se ela chegar depois da hora
então espera por ela

E se ela chegar antes da hora
então espera por ela

E não assustes os pássaros que estão nas suas tranças
e espera por ela

Para que ela se sente descansada como um jardim no cimo da sua beleza
e espera por ela

Para que respire este ar estranho no seu coração
e espera por ela

Para que levante o vestido das suas coxas, nuvem por nuvem
e espera por ela

E trá-la à varanda para ver uma lua afogada em leite
espera por ela

E oferece-lhe água antes do vinho, e não
olhes para as perdizes gémeas a dormir sobre o seu peito
e espera por ela

E toca-lhe a mão devagarinho quando
pousa o copo sobre o mármore
como se lhe levasses orvalho
e espera por ela

Fala com ela como uma flauta
com a corda assustada de um violino

como se fôsseis os dois testemunhas do que o amanhã vos prepara
e espera por ela

Ilumina-lhe a noite anel por anel
e espera por ela

até que a noite te diga:
não ficaram senão vós dois no mundo

Portanto leva-a com cuidado para a tua morte desejada
e espera por ela



Mahmûd Darwîsh


Tradução: André Simões



سوطرا



بكأس الشراب المرصَّع باللازوردِ

انتظرْها ,

على بركة الماء حول المساء وزَهْر الكُولُونيا انتظرْها ,

بذَوْقِ الأمير الرفيع البديع

انتظرْها ,

بسبعِ وسائدَ مَحْشُوَّةٍ بالسحابِ الخفيفِ

انتظْرها ,

بنار البَخُور النسائِّي ملءَ المكانِ

انتظْرها ,

برائحة الصَّنْدَلِ الَّذكَريَّةِ حول ظُهُور الخيولِ

انتظْرها ,

ولا تتعجَّلْ , فإن أقبلَتْ بعد موعدها

فانتظْرها ,

وإن أقبلتْ قبل موعدها

فانتظْرها ,

ولا تُجفِل الطيرَ فوق جدائلها

وانتظْرها ,

لتجلس مرتاحةً كالحديقة في أَوْجِ زِينَتِها

وأَنتظْرها ,

لكي تتنفَّسَ هذا الهواء الغريبَ على قلبها

وانتظْرها ,

لترفع عن ساقها ثَوْبَها غيمةٌ غيمةٌ

وانتظْرها ,

وخُذْها إلى شرفة لترى قمراً غارقاً في الحليبِ



انتظْرها ,

وقَّدمْ لها الماءَ , قبل النبيذِ , ولا

تتطَّلعْ إلى تَوْأَمْي حَجَلٍ نائميْن على صدرها

وانتظْرها ,

ومُسَّ على مَهَل يَدَها عندما

تَضَعُ الكأسَ فوق الرخام

كأنَّكَ تحملُ عنها الندى

وانتظْرها ,

تحَّدثْ إليها كما يتحدَّثُ نايٌ

إلى وَتَرِ خائفٍ في الكمانِ

كأنكما شاهدانِ على ما يُعِدُّ غَدٌ لكما

وانتظْرها ,

ولَمِّع لها لَيْلَها خاتماً خاتماً

وانتظْرها ,

إلى أَن يقولَ لَكَ الليلُ :

لم يَبْقَ غيرُكُما في الوجودِ

فخُذْها , بِرِفْقٍ , إلى موتكَ المُشتْهَى

وانتظْرها ! ...

Publicada por André . أندراوس البرجي

Etiquetas: Mahmud Darwish - 1941-2008 Palestina

1 comentário:

Unknown disse...

Méon,

a tocante sensibilidade do poema é uma das características desta poesia...
Para todos os dias!!!!

Beijinho.