4.7.13

OS "MERCADOS", ESSA NOVA TRANSCENDÊNCIA

O que é a Transcendência?
O meu professor de Filosofia dizia que era um conceito complicado que estava mesmo no cerne da filosofia de Kant, esse imenso continente onde poucos se aventuram a viajar por conta própria.

Para mim, a ideia de transcendência confundia-se com a de Deus, algo exterior a nós, que nos é estranho mas, simultaneamente, nos determina, vigia e julga. Para quem descobria o valor intrínseco e inviolável da Liberdade, essa "presença" era uma ameaça e uma negação.

Em política, a ideia de Democracia renega essa presença. É aos sujeitos livres que compete decidir o seu destino, ao contrário do que defendia o iluminismo absolutista. Deus - ou o ser Transcendente - cauciona e justifica o Poder, uma ideia muito querida dos soberanos "iluminados"  do século XVIII.

Pensava eu que o séc. XXI traria a consolidação da ideia democrática. Estava iludido. Uma nova Transcendência se impõe agora: os "Mercados"!
São eles que determinam a nossa vida e os nossos destinos. A ideia de eleições é atacada como na Idade Média se fazia com o pecado. Os Mercados, esse ser que está em toda a parte - como se dizia de Deus - vigia-nos e ameaça-nos com o castigo eterno se não respeitarmos a sua divina vontade.

Voltamos ao irracionalismo como estratégia de domínio dos povos  delineada pelos criadores dessa Transcendência - que agem de forma muito racional e fria em defesa dos seus interesses.
Os políticos que nos governam são os sacerdotes da nova religião de que Jornalistas como Camilo Lourenço ou José Gomes Ferreira são os sacristães.
Eles esperam que nós, amedrontados com as oscilações dos juros, batamos com a mão no peito e professemos "a nossa culpa, nossa tão grande culpa."

Penitência e oração! Austeridade e renúncia do Estado Social! O Céu espera por nós.

2 comentários:

Joaquim Cosme disse...

Sinto-me baralhado mas não me sinto causador ou culpado de tanta confusão.
Portanto, eu não bato com a mão no peito a dizer "minha culpa".
Joaquim Cosme

Joaquim Moedas Duarte disse...

E eu, tão pouco, caro Joaquim Cosme.