12.6.10

ÓCULOS DE PAI


Um poema de Ferreira Gullar
em memória de meu pai, que teve uns óculos assim...



Meu pai


meu pai foi

ao Rio se tratar de

um câncer (que

o mataria) mas

perdeu os óculos

na viagem



quando lhe levei

os óculos novos

comprados na Ótica

Fluminense ele

examinou o estojo com

o nome da loja dobrou

a nota de compra guardou-a

no bolso e falou:

quero ver

agora qual é o

sacana que vai dizer

que eu nunca estive

no Rio de Janeiro


De Muitas Vozes (1999)

2 comentários:

lis disse...

Muito bom Méon
Uma homenagem carinhosa e o espírito do pai bem humorado.
abraços pra voce com votos de um domingo de sol.
Aqui no Rio está aquela chuvinha manhosa e o friozinho europeu que até gostamos.
boa semana

Unknown disse...

Méon,

Terna, terna a foto! Duplamente terna pela memória.

E vou aprendendo a descobrir o poeta!!!!
"Brigados"!!!!

Beijinho.