"- Acorda, homem, que estás na tua terra!
Ele desembrulhou os pés do meu paletó, cofiou o bigode, e veio sem pressa, à vidraça que eu abrira, conhecer a sua terra.
- Então é Portugal, hem?...Cheira bem.- Está claro que cheira bem, animal!"
(A Cidade e as Serras, Eça de Queiroz)
Lembrei-me deste excerto quando li há dias mais uma crónica do António Manuel Pina no Jornal de Notícias. É claro que não resisti a fazer o trocadilho...
A crónica diz assim:
«Conhecimentos inúteis
O aeroporto de Beja já ganhou direito a figurar no clássico "Catalogue d'objets introuvables", de Carelman, num improvável capítulo dedicado a elefantes brancos. Desde que o projecto foi lançado com a constituição, em 2001, da EDAB /Empresa de Desenvolvimento do Aeroporto de Beja, já se foram, segundo o Tribunal de Contas (TC), 35 milhões, mais 39 milhões irão a seguir e aeroporto... nicles.
É certo que foram sendo feitas umas obras (muitas, como seria de esperar, por ajuste directo e sem consulta de outras empresas). E, naturalmente, com atrasos que chegam a 320% dos prazos contratados e acréscimos de custos da ordem dos milhões.
Nove anos depois, o "introuvable" aeroporto tem administradores, muitos e dispersos assessores (diz o TC que foram gastos em assessorias 300 mil euros a mais, sem contrato) e a perspectiva de 20 anos de prejuízos por conta dos contribuintes. Não tem é acessibilidades, operadores ou... pista de aterragem. Parece que houve um "erro no modelo utilizado na construção" e que repará-lo vai custar mais 8 milhões. Erro que, obviamente, não tem culpados, já que a EDAB (é uma empresa pública portuguesa com certeza) "não apurou quaisquer responsabilidades".
Nos dias de hoje, saber-se tudo isto não terá, claro, consequência alguma. Será só mais uma página a engrossar o "Catálogo de conhecimentos inúteis" que os portugueses e eu acrescento, "a começar no seu presente e futuro Presidente da República, Drº Aníbal Cavaco Silva", têm sobre o modo como o seu, seu não, nosso dinheiro é gasto.»
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