Está tudo dito? Está. Por isso mesmo, tudo pode ser dito outra vez. Porque "dizer" é viver de novo - renovar, inovar.
O que nunca esqueci do tempo antes de 1974: a formatação cultural, a política "união nacional", a tendência para o uniforme. Aparecia um homem nas "Conversas em Família", na RTP1, que abusivamente doutrinava, de dedo em riste e fala melíflua. Caixa d'óculos do beatério político que era Portugal.
No dia 25 do tal Abril rebentou-se com o portão da quinta mas as Chaimites de Santarém ainda respeitaram um sinal vermelho numa rua de Lisboa... A contradição, que nunca se apagou.
Volto ao velho sábio:
«Metade do mundo rí-se da outra metade, e ambas são néscias. Segundo as opiniões, ou tudo é bom ou tudo é mau. O que um segue, outro persegue. É um néscio insuportável aquele que quer regular tudo segundo o seu critério. As perfeições não dependem de uma só opinião: os gostos são tantos como os rostos, e igualmente variados. Não há defeito sem afecto. Não se deve desconfiar de as coisas não agradarem a alguns, pois não faltarão outros que as apreciem. Nem nos orgulhemos com o aplauso de estes, pois outros o condenarão. A norma da verdadeira satisfação é a aprovação dos homens de reputação e que têm voz e voto nessas matérias. Não se vive de um só critério, costume ou época.» (Baltasar Gracián, autor espanhol do séc XVII)
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