4.5.11

GOSTO DO PEDRO TÁMEN


Mas já houve tempo em que o detestei. Alguns títulos dos seus livros ("Horácio e Coriácio"....), o contorcionismo da escrita poética ( "...e não é dito assim / que assim se inspira / um outro canto ou este, / mas nem dizendo, até que fica / tal como aquela aberta, / a luz fechada / - mais íntima e transposta."), até o aspecto do homem...
Um dia - em 1991! - Pedro Támen veio a Torres Vedras participar num Poesia ao Jantar organizado pela Cooperativa de Comunicação e Cultura. Fui lá jantar, serviram-me poesia à sobremesa  e fiquei a gostar dele.
A "Tábua das Matérias" - compilação da sua obra poética de 1956 a 1991 - passou a fazer parte dos meus livros de cabeceira.
Tenho seguido o seu percurso poético e profissional, o labor de tradutor premiado. Soube da aposentação, li há semanas a bela entrevista à LER. Comprei o "O LIVRO DO SAPATEIRO" (Dom Quixote, Lx, 2010).
Nunca me senti defraudado, antes enriquecido com a maneira de ser deste homem simples, despretencioso mas sábio e experiente, com uma vida cultural rica e intensa.
Vi ontem num jornal que "O Livro do Sapateiro" foi distinguido com o prémio de Poesia da APE. Fiquei contente por ele e pela poesia, nosso território de verdade e essência.






Este livro tem 49 poemas. Leio o 48:

Ardem-me os olhos de tanto me fixar
no presente vivido. Choro
inundando o que nas mãos seguro.
E é com as lágrimas dos dias,
com este pranto reclinado,
que à obra puxo o lustro,
dou brilho à sua vida, à minha.

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