22.5.11

SAIR DAQUI





«O verdadeiro problema que enfrentamos no rescaldo de 1989 não é o que pensar do comunismo. A visão da organização social total - a fantasia que, de Sidney Webb a Lenine, de Robespierre a Le Corbusier, animou os utópicos - jaz em ruínas. Mas a questão de como nos organizarmos para o benefício comum continua tão importante como sempre. O desafio para nós é recupe­rá-lo dos escombros.» (Tony Judt em: UM TRATADO SOBRE OS NOSSOS ACTUAIS DESCONTENTAMENTOS, ed. 70, 2011)

Muitas vezes sinto-me resvalar para a descrença num futuro melhor da humanidade. É certo que vivo na Europa, uma parte do mundo em que a vida nunca foi tão rica em possibilidades de conforto material - os africanos que cruzam desesperadamente o Mediterrâneo sabem-no, mesmo que depois venham a ser varredores de lixo.
Mas as medonhas contradições  que atravessam esta sociedade e o gigantismo dos problemas económicos, de dimensão planetária, parecem dar razão à minha descrença, reforçada pela hecatombe humana em muitas partes do chamado Terceiro Mundo. Que fazer? - é a pergunta angustiada. Minha e de muitos que um dia acreditaram em amanhãs que cantam e olham o negrume em que estamos a cair.

Por isso olho para a Praça do Sol em Madrid, como olhei para o Cairo ou para a Tunísia, meses atrás, com um misto de esperança e de cepticismo. No meu espírito ecoam os exemplos de "Mãe Coragem" e dos camponeses da minha terra nos anos 50, mas não consigo esquecer as páginas negras de "Se isto é um homem ", de Primo Levi.

Releio o testamento espiritual deTony Judt e sinto-me confortado pelo gesto derradeiro deste  investigador e cientista social. Sabia que estava a morrer mas continuou à procura da saída do seu labirinto. Ele incita-me a não desistir de tentar.

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