13.7.07

POESIA E SAPATOS



De bruços me debruço mais ainda
até sentir os olhos tumefactos
para saber até que ponto é linda
a intrigante cor desses sapatos

que às tuas pernas dão um brilho tal
e uma leveza tal ao teu andar
que eu penso (embora aches anormal)
que nunca te devias descalçar.

Também porquê, se já não há verdura
nem tu és Leonor para correr
descalça, no poema, à aventura?

O mais difícil, hoje, é antever
quem é que vai à fonte em literatura
e que água dá aos versos a beber.

Joaquim Pessoa, 1948

6 comentários:

avelaneiraflorida disse...

Estive hoje (ontem) com um livro de Joaquim Pessoa na mão!!!!!

Mas como já tinha comprado um do Eugénio de Andrade...

Ok! Tá decidido...em vez de outro par de sapatos...lá virá outro livro!!!!!

Joaquim Moedas Duarte disse...

Desculpa a antecipação...
Mas há lugar para todas as opções.

Achei este soneto uma delícia, sobretudo pela sobreposição de sentidos, em que do mais trivial se dá o salto para o outro lado, a POESIA, de uma forma tão subtil que mal damos por ela...

Ema Pires disse...

Poema curioso e enigmático. Adoro os sapatos da fotografia e gostava de ter uns assim.
Beijinhos

Paúl dos Patudos disse...

Belo poema e com sapatos a condizer.
Abraço
Ana Paula

Joaquim Moedas Duarte disse...

Ema e Ana: obrigado pela visita.
Quanto aos sapatos: vi uns parecidos na feira da Malveira... Posso procurar o contacto do feirante...

Quanto à Ana:
aquele abraço conterrâneo. E já lá vou ao Paul dos Patudos...

Ema Pires disse...

Finalmente so verdes e brilhantes demais...!
Beijinhos