21.2.10

A TRANSPARÊNCIA OPACA DO SR. FERNANDO NOBRE




Entenda-se que não ponho em causa, de modo algum, a qualidade profissional e o sentido humanitário do trabalho do Dr. Fernando Nobre à frente da AMI.
Em plano muito diferente está  a sua  opção política de candidatura à Presidência da República, que me aparece como uma incursão monárquica exactamente no ano em que comemoramos o centenário da República.
Porque digo isto? Vejam-se as ligações:
Fernando Nobre é Presidente da Assembleia Geral do Instituto Democracia Portuguesa cujo Presidente de Honra é... D. Duarte de Bragança! Como se vê AQUI.

Vejam-se também  os órgãos desse Instituto, com as diversas personalidades que o compõem.
Por exemplo, o Presidente da Direcção é o Prof. da Universidade Católica Mendo Castro Henriques, com um relevante currículo académico no qual nunca escondeu a sua defesa da Monarquia.
Leiam-se alguns textos do referido professor AQUI; AQUI; ou a sua intervenção no X CONGRESSO DA CAUSA REAL.

Ser monárquico não é crime. Para mais, esta corrente monárquica defende inequivocamente o regime democrático. Mas defende, igualmente, a passagem do regime republicano ao regime monárquico através de um processo que chamam de "dupla revisão constitucional", no qual o povo português seria chamado a referendar o novo regime. A intervenção de Mendo Castro Henriques no X Congresso da Causa Real intitulava-se, significativamente, «4.ª República ou 5.ª Dinastia? Os Modelos da Construção europeia e a Relevância da Questão do regime» e teorizava longamente sobre estas questões.

Portanto, a candidatura de Fernando Nobre não é nada inocente. Ontem, na sua apresentação  afirmou que ela é a "dos que não tiveram voz até agora, dos que se desiludiram com a política, dos que acreditam que a política não se esgota nos políticos e não é a sua coutada privada". Dirige-se aqueles para quem "o destino do país não é indiferente" e diz-lhes que "chegou a hora da grande, determinada e corajosa opção de actuar".

Envolvida em ideais de renovação da vida pública e em transparência democrática, esta candidatura é, na realidade, um afrontamento aos ideais republicanos.

20 comentários:

Pedro de Azevedo Peres disse...

Caro Joaquim Duarte,

Tem razão o Dr. Fernando Nobre tem todos esses amigos e relacionamentos no campo monárquico.

Também a proclamação da República em 1910 contou com o apoio de muitos monárquicos. Será menos República por isso?

Esta capacidade de Fernando Nobre se relacionar com todos os sectores da sociedade portuguesa é uma das suas mais valias.

E ainda dizem algumas más línguas que lhe falta cultura política.

Mais, se lêr a declaração de candidatura de Fernando Nobre (in: http://www.fernandonobre.org/)verificará que, apesar de no momento não a jurar, 4 vezes invoca a Constituição da República garantindo-lhe obediência.

Saudações republicanas e democráticas

Pedro de Azevedo Peres

Declaração de interesses: Eu apoio a candidatura à Presidência da Repùblica do cidadão Fernando Nobre.
(Poderá encontrar-me em http://gajeiro.blogspot.com/)

Joaquim Moedas Duarte disse...

Agradeço ao comentador anterior a informação que nos deixa e que eu desconhecia por completo: "a proclamação da República em 1910 contou com o apoio de muitos monárquicos".

Fico a entender a candidatura do Dr. Fernando Nobre como mais uma contribuição dos monárquicos para a preservação da República.

Haverá coisa mais transparente?

Pedro de Azevedo Peres disse...

Quis V. Exa. tresler o meu comentário, porventura ainda assombrado pela leitura da "Carta sobre o perigo da invasão monárquica na República de amanhã" (Chagas, Cartas Políticas, 5.ª série, 5-IX-1910, pp.161-167).

A mim, que sou Republicano, não me afrontam as amizades monárquicas do cidadão Fernando Nobre, que é meu candidato, porque sei que ele é um homem livre, honesto, digno e leal e que ao jurar a Constituição da República, não só a cumprirá como a fará cumprir.

Aliás se a amizade e o amor conseguem esbater as diferenças, só a razão as pode transcender.

Eu passo a esclarecer a minha afirmação: “Também a proclamação da República em 1910 contou com o apoio de muitos monárquicos. Será menos República por isso?”

Dos dissidentes monárquicos que colaboraram desde 11 de Julho de 1907 com Afonso Costa (Pad'Zé) destacam-se José Maria de Alpoim ex-regenerador, fundador da “Dissidência Progressista” e o seu braço-direito Visconde da Ribeira e ainda os Viscondes do Ameal e de Pedralva, Egas Moniz - o nosso Nobel da Medicina - entre outros.

Em documento que não tenho presente João Chagas refere ainda o envolvimento de "regeneradores" nas actividades conspiratórias.

Aliás consta que o trato com o Afonso Costa era que os republicanos forneciam homens e os tais monárquicos armas e dinheiro.

Os monárquicos, acima referidos, bem como outros, estiveram na "Revolta do elevador" e tanto quanto se sabe a arma de Buiça foi comprada com outras 5, pelo Visconde da Ribeira Brava e por ele fornecida aos conspiradores.

Para além destes muitos outros se juntaram a República depois de 5 de Outubro de 1910 tendo ficado conhecidos como “adesivos”.

E por aqui me fico.

Joaquim Moedas Duarte disse...

Registo a argumentação aduzida pelo ilustre comentador.
Sobre a época da implantação da República há muito para dizer e polemizar. Neste momento não tenho munições para tanto. Vou estudando. Do que sei dá para entender que um monárquico que opta pela República deixa de ser monárquico, ou então é um paradoxo... ou um oportunista político. E esses tais "adesivos" foram-no, o que levou muitos republicanos a lamentaram amargamente a facilidade com que eles foram integrados nas instituições republicanas, que minaram, sempre e quando puderam.

Quanto ao candidato Fernando Nobre, li ontem uma entrevista dele ao jornal I. E não estranhei a acentuação por ele feita sobre a necessidade de usar mais o referendo.

Ora não é segredo para ninguém que os monárquicos democráticos defendem que o regime deve ser referendado pelo povo, na esperança de que este opte pelo regresso à monarquia.

Fernando Nobre irá jurar a Constituição, mas é sabido que esta está sujeita a revisões, dependentes da evolução política do país. Todos os Presidentes da República a juraram mas, quando chegou a altura, não se eximiram a promulgar a sua revisão. Ela não é estática.

Só ficarei convencido da fé republicana do dr. Fernando Nobre quando ele a fizer expressamente. E já agora esclarecendo que preside à Assembleia Geral de um instituto de feição e ideologia monárquica apenas para ser agradável a uns amigos...

www.centenariodarepublica.org disse...

Ai que medo que o sr. Meon tem dos monárquicos! Será trauma de infância que o fez jacobino?

www.centenariodarepublica.org

http://centenario-republica.blogspot.com/ disse...

http://centenario-republica.blogspot.com/

Bravura Lusitana disse...

Parece que de um momento para o outro, Fernando Nobre deixou de ser boa pessoa, pois descobriu-se-lhe simpatia pela causa Monárquica.

Querendo ser livre, Fernando Nobre deixou de o ser a partir do momento em que a elite republicana se apercebeu que este tão "Nobre" cidadão pensa pela sua cabeça ao invés de pensar pela deles.

Se cada um de nós pensar que a Democracia só é importante se todos os outros pensarem como nós, temos que a repensar.


Abraço e bons bitaites aqui no seu blog.

Rui Monteiro disse...

Fé republicana de Fernando Nobre ?
Sonhem sonhem ...

Não se muda de um dia para o outro, mas se for preciso minar o sistema vão ter surpresas :)

Joaquim Moedas Duarte disse...

Repito:
1 - Não ponho em causa o enorme valor do trabalho do Dr. Fernando Nobre.

2 - Não contesto o seu direito a uma actividade política relevante, como é uma candidatura à Presidência da República.

3 - Não faço anátemas radicais contra o movimento pela regresso à monarquia.

Mas:


Continuo a afirmar que esta candidatura não é tão transparente quanto pretende fazer crer, pelos motivos que já referi.

Quanto ao "jacobinismo": é anedota, não?
Onde isso já vai, o jacobinismo. Era um dos insultos mais patetas de alguns reacças monárquicos e, mais tarde, do salazarismo...

Respeitemos o Dr. Fernando Nobre e os adversários que não usam a chicana política, ok?

editor69 disse...

Pronto...entram já em pânico...não vale a pena...a MONARQUIA a vir será quando os portugueses abrirem os olhos e quiserem... não é com infiltrados ou cavalos de tróia...já a parte do jacobinismo e onde é que isso já vai?...basta ver os louçãs cá do burgo diáriamente e se ve onde ele vai!

Bravura Lusitana disse...

Têm medo de um referendo Monarquia vs república? Têm medo dessa forma Democratica de decisão? Têm medo de dar voz ao Povo?

Lembrem-se, a república foi imposta através de assassinatos e muito sangue derramado.

Se em 1910 tivesse havido referendo, alguma vez o Povo teria querido a república?

Joaquim Moedas Duarte disse...

É claro que a questão da República ainda aparece envolta em polémica.
As interpretações simplisticamente abusivas permanecem, como esta de associar assassinatos aos fundadores da República.
É como tudo: assim como havia monárquicos caceteiros/absolutistas/ antidemocráticos, também houve republicanos extremistas cujas acções foram extremamente perniciosas para a República.

Não me revejo nesses. A minha figura de referência é José Relvas, meu conterrâneo.

De qualquer modo agradeço a participação dos comentadores que por aqui têm passado e cujos comentários publicarei, desde que sejam "educados". O que tem acontecido até agora.

Anónimo disse...

Eu acho que nem a república nem os republicanos mereciam um candidato com tão "nobres" qualidades, que é o Dr. Fernando Nobre, Presidente da AMI.

Ana Maria disse...

Gostei de saber que aprecia José Relvas. Apesar deste senhor ter tido alguns comportamentos deploráveis, nomeadamente em relação ao seu pai, à sua irmã Clementina, e principalmente ao eu filho (que se suicidou por causa da estúpida obstinação do pai) também é verdade que foi um dos primeiros desiludidos com a república que ajudou a instaurar.
Se visitar a casa dos patudos,com particular atenção verá que encontra as armas reais em muitos objectos pessoais da esposa e até numa faca de abrir cartas de José Relvas. Mais ainda, diz-se (mas nada ficou escrito) que José Relvas, já idoso e sem filhos, confessou aos amigos íntimos que estava arrependido de muitas coisas que tinha feito na sua vida. Entre elas, referiu o desrespeito a seu pai (que era F.C.R) e também ter lutado pela república, quando teria sido mais sensato manter o rei no trono.
Efectivamente, o problema português na época não tinha nada a ver com o regime, mas sim com os partidos rotativos que minavam todo o sistema e subvertiam a democracia. Saberá o senhor com certeza, que os primeiros republicanos que se sentaram nas Cortes foram integrados nas listas de um partido monárquico oposicionista. Entretanto, os resultados eleitorais dos republicanos foram sempre desapontadores (é verdade que as eleições não eram muito justas, mas eram menos injustas do que todas as que se fizeram entre 1910 e 1975) e a única hipótese de tomar o poder foi pela violência. Com meia duzia de deputados republicanos no parlamento, o que se fez em 1910 foi quase como se agora o PCP decidisse fazer uma revolução e tomar o poder.
O país estava mal em 1910, mas já tinha estado bem pior e o rei D. Carlos tinha, gradualmente, recuperado o apoio internacional graças a sua grande habilidade diplomática. O problema era semelhante ao actual: dois grandes partidos que distribuiam as benesses aos seus apaniguados e estavam nas tintas para o país. Instauraram a república, mas o modelo foi o mesmo. Como se diz, só mudaram as "moscas". E perdeu-se o moderador - Rei -, tornando-se a presidencia da república um cargo partidarizado, sendo totalmente falacioso que qualquer cidadão possa aceder a esse lugar.

Bravura Lusitana disse...

É claro que a república jamais se poderá dissociar dos seus assassinatos e propaganda de baixo nivel. Não era Buiça republicano? E os Costas Alfredo e Afonso?

Claro que cada regime tens as suas viscissitudes e calcanhares de aquiles. Se a Monarquia teve caceteiros absolutistas e mulas malhadas, também a república teve a sua carbonária, bombistas e regicidas, formiga branca e salazares...

O problema disto tudo é que enquanto os caceteiros viveram no inicio século XIX, os republicanos fascistas estiveram no poder em meados do século XX quando todo o mundo moderno já se regia pela declaração Universal dos Direitos Humanos.

Joaquim Moedas Duarte disse...

Ana Maria deixa aqui um texto que me sensibilizou particularmente.
Denota um conhecimento de José Relvas que estou longe de possuir, até porque em Alpiarça a sua memória permanece envolta numa aura nebulosa. Além do que deixei de lá viver há mais de trinta anos.
Desconheço se existe alguma biografia de José Relvas, feita com rigor.
Apenas conheço as suas "memórias políticas".


Tomo a liberdade de sugerir a Ana Maria que me contacte através do meu mail, se acaso estiver na disposição de partilhar algum do seu conhecimento sobre José Relvas:
moedasduarte@gmail.com

Obrigado

Pedro de Azevedo Peres disse...

A Monarquia em Portugal caiu (de "podre") e foi derrubada (porque houve quem deu a cara em nome de ideais de liberdade, de democracia e de fraternidade).
O regime monárquico, não tem sentido num mundo moderno. Vai subsistindo nalguns estados, por tradição, por interesses económicos, porque em determinados contextos ainda são garante de coesão nacional, ou pela força pura e dura (uma minoria).
No entanto é natural que os monárquicos defendam a sua visão e pugnem por ela. Felizmente vivemos em democracia e todos podem, por princípio constitucional, defender livremente as suas ideias.
Para mim a questão do referendo é mera falácia. Se não vejamos. Com a queda da ditadura protofascista de Salazar e Marcelo existiu um momento ímpar e clarificador: as eleições de 1975 para a Assembleia Constitucional.
Nesse momento o campo monárquico dividiu-se entre ir às urnas ou não ir. Mas o que é certo é que se apresentou às urnas um partido monárquico – o Partido Popular Monárquico.
Apesar de terem então candidatado valorosos, portugueses de reconhecido mérito, muito deles opositores frontais à ditadura, não tiveram sucesso.
Em minha opinião, não em razão do veto da Causa Monárquica, nem por seu demérito, mas antes por defenderem a ideia de uma Monarquia para Portugal.
Mesmo assim obtiveram então o seu melhor resultado eleitoral até hoje: 32.526 votos (0,57% do total).

O referendo que muitos pedem, teve então, nesse momento, pelo menos para mim, cabal resposta. Um NÃO rotundo.

Se os portugueses quisessem uma monárquica teriam então optado por eleger maioritariamente os candidatos do PPM.

Eu pessoalmente, tenho claro que é preferível escolher alguém para primeiro representante do meu país de acordo com os seus méritos, de cinco em cinco anos, do que ter que suportar alguém apenas por ser o primeiro de uma sucessão heriditária.

No primeiro caso, posso optar entre vários candidatos e escolher o que para mim tem o melhor perfil para a função, no outro …

Anónimo disse...

Está a ficar célebre, como o Afonso Costa...

http://realbeiralitoral.blogspot.com/2010/02/um-republicano-preocupado.html

Anónimo disse...

Sr. Pedro Azevedo Peres,

A Monarquia não caiu de podre, mas às mãos das bombas e assassinatos republicano-carbonários. Eles sabiam que se matassem D. Carlos e o Herdeiro ao trono a Monarquia ficaria debilitada, tendo em conta que D. Manuel não estava preparado para Reinar. E assim o fizeram: bang, bang, bang (só não conseguiram liquidar D. Manuel, mesmo tendo-o atingido num braço).

Quanto ao número de Monárquicos, você também está muito enganado. Eu sempre fui Monárquico e nunca votei no PPM. Eu entendo que queira atirar areia para os olhos dos Portugueses, mas tem que se esmerar mais.

Dizem os Católicos que ensinar os ignorantes é uma obra de mesericórdia. Eu não sou muito conhecedeor de religião, mas confesso que fiz o meu melhor para contribuir.

Bravura Lusitana disse...

Na verdade, sr. Pedro Peres, a Monarquia só tem feito sentido nos Países com maior Desenvolvimento Humano. Nos Países com mais assimetrias da Europa jamais fará sentido. Nesta república, enquanto uns se reformam aos 55 anos com uma valentes cifrões, outros reformam-se quase aos 70 com uns pequenos tostões.

Concordo com o anómino anterior que diz que a maior parte dos Monárquicos não vota no PPM, pois a Monarquia está acima dos Partidos Politicos (é imparcial) e, como tal, jamais poderá ser um Partido.

Acha que o Monárquico de Esquerda poderia ter votado nesse PPM que fez aliança com o PPD de Sá Carneiro e o CDS de Freitas do Amaral?

Lembre-se, foi em Monarquia que Portugal esteve na linha da frente na abolição da pena de morte e da escravatura.