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ÇA IRA
Isto vai, caro amigo.
Não como nós queremos, é certo,
mas isto vai.
Por noites de insónia e alcatrão
por laranjas e lábios ressequidos
por desespero na voz e escuridão
isto vai, caro amigo.
Por mágoas acesas e relógios
pelo sabor dos braços na alegria
pelo odor das plantas venenosas
isto vai, caro amigo.
Pelo cabo axial que liga a nossa esperança
pela luz dos cabelos, pelo sal
pela palavra remo, pela palavra ódio
isto vai, caro amigo.
Pela ternura e pela confiança
pela vontade e força, as nossas casas
pelo fervor com que inventamos (e depois calamos)
isto vai, caro amigo.
João Rui de Sousa
2 comentários:
Méon,
Este título recorda-me algo que, neste momento, não sei clarificar...talvez um hino...um grito da Revolução Francesa...
Mas,seja ou não, o poeta deixa-nos um bordão para o caminho: ÇA IRA!!!!!
Sim, o título tem outras ressonâncias, que também não localizo. Julgo que era também uma espécie de senha para incitar ao optimismo nos tempos de chumbo do Estado Novo.
E hoje ainda... ÇA IRA!
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