12.6.08

SEGREDO




Esta noite morri muitas vezes, à espera
de um sonho que viesse de repente
e às escuras dançasse com a minha alma
enquanto fosses tu a conduzir
o seu ritmo assombrado nas trevas do corpo,
toda a espiral das horas que se erguessem
no poço dos sentidos. Quem és tu,
promessa imaginária que me ensina
a decifrar as intenções do vento,
a música da chuva nas janelas
sob o frio de fevereiro? O amor
ofereceu-me o teu rosto absoluto,
projectou os teus olhos no meu céu
e segreda-me agora uma palavra:
o teu nome - essa última fala da última
estrela quase a morrer
pouco a pouco embebida no meu próprio sangue
e o meu sangue à procura do teu coração.

[ Fernando Pinto do Amaral, in Às Cegas, Relógio D'Água. 1997
Foto (C) de J. Moedas Duarte ]

10 comentários:

Anónimo disse...

Méon:

Escolhe sempre coisas táo bonitas....

Continue a deliciar-nos com estas pérolas!!!

DaBeira

Joaquim Moedas Duarte disse...

DaBeira

As coisas belas são para partilhar...

Fique bem.

Xantipa disse...

Muito bonita a foto (parabéns) e muito bonito o poema (bem escolhido).
Um abraço

Joaquim Moedas Duarte disse...

Olá, Xantipa:

A foto foi tirada no Sítio da Nazaré. O poema é, de facto, muito rico de sentido.
Obrigado.

Azul disse...

Isto é fabuloso, é tudo quanto posso dizer aqui. Mais uma vez, reitero o que creio já ter dito inúmeras vezes, mas nem tantas ainda: admiro a gentileza das palavras que connosco aqui partilha, certamente as de muitas que o acompanham por dentro, tantas vezes na solidão da vida!

Viste-me no amarelo, e em www.bodega-bay.blogspot.com

Espero que goste de um meu outro lado: talvez o pessimista! Um abraço para si. Até breve. Azul.

LeniB disse...

sempre segui a poesia deste homem...é que tive o privilégio de o ter tido como professor na faculdade.
bjs

Joaquim Moedas Duarte disse...

Olá, Azul:

palavras gentis, as suas.
Lá irei, sim, aos seus espaços, sempre muito expressivos.
Fique bem!

Joaquim Moedas Duarte disse...

Lénib:

Conheci o Prof. F. Pinto do Amaral num curso livre da Fac. de Letras, há uns anos.
Mais tarde vi um livro dele com um título estranho: "Acédia".
Tive de ir ao dicionário ver o significado. Palavra pouco usada, de facto. Aliás, talvez usemos apenas uns 20 ou 30 % das palavras disponíveis no dicionário...
Que significa?
Não quero roubar o prazer da descoberta pessoal...

Beijinho, já irei ao Prozac...

avelaneiraflorida disse...

Méon,

E o sítio da Nazaré tem mistérios imensos...como o de cada dia em que o sol se põe!!!
Também o poeta sabe como o dia se encontra na noite!!!

Joaquim Moedas Duarte disse...

Avelaneira:

Os poetas sabem tudo! por isso sofrem e alegram-se por nós... Ou melhor: sabem encontrar as palavras certas!