22.1.08

DUNAS




Lá onde a garça deixa
O seu último ovo
E os juncos melodiosos vão ao vento,
Aí, nem uma queixa
Nem sentimento
Novo.

Lá onde areias, bicos, água, o extenso
Mar sozinho se der,
Lá, só um lenço
E um malmequer.

O lenço, humano, pequenino
E o malmequer selvagem:
Ele só, teimoso e fino,
Guarda segredo à aragem.

Flor breve,
Adeus das dunas,
O malmequer me quis bem.
Em seu corpo radiado o mar me escreve
De amores piratas, sobre escunas
Que já não salvam ninguém.
Vitorino Nemésio, Nem Toda a Noite a Vida

1 comentário:

avelaneiraflorida disse...

Lindo!!! LINDO!!!!

Vitorino Nemésio num registo de poesia maravilhosamente bela!!!!
e tem o mar...e tem o malmequer...fica completo!!!!