9.6.09

SE VÉNUS VOLTASSE


Textos inesquecíveis:

«Eliminámos o amor. Levou-nos muito tempo, mas o homem tem muitos recursos e a sua inventiva é ilimitada também, e assim a gente viu-se enfim livre do amor como nos vimos livres do Cristo. Temos a telefonia em lugar da voz de Deus, e em vez de pouparmos a moeda das emoções durante meses e anos para merecermos uma oportunidade de gastá-la toda em amor, dissipamos isso em moeda miúda e titilamo-nos diante dos jornais, a cada esquina, como com pastilhas elásticas e chocolates das máquinas automáticas. Se Jesus hoje voltasse, teríamos de crucificá-lo depressa em defesa própria, para justificarmos e preservarmos a civilização que desenvolvemos e sofremos e morremos, guinchando e praguejando de raiva e de impotência e de terror, em dois mil anos de a criarmos e aperfeiçoarmos à imagem do homem.; se Vénus voltasse, seria um homem sórdido, numa retrete de metropolitano, com a palma da mão cheia de postais obscenos... - McCord voltou-se na cadeira e fez um gesto violento e reprimido. O criado apareceu, McCord apontou para o seu copo. A mão do criado veio repor o copo cheio na mesa, e retirou-se.»

(Palmeiras Bravas, William Faulkner, trad. de Jorge de Sena)

1 comentário:

Unknown disse...

Méon,

William Faulkner!!!!!

Que boa lembrança...e logo agora que se aproximam os tempos de leituras!!!!!!!!

Beijinho.