A ira de deus desaba, fulminante, sobre as nossas cabeças. Sodoma e Gomorra, choro e ranger de dentes.
Nós, povo, que trabalhamos, que pagamos impostos, que consumimos o que nos é proposto para que a economia não pare, de repente somos os grandes e únicos culpados da bancarrota iminente. "Consumimos de mais"... "gastámos mais do que o que produzimos"... "Construímos mais de um milhão de casas que agora estão vazias ou por vender"... "Deixámos desertificar Lisboa e o interior beirão" ... "Abatemos centenas de traineiras de pesca"... "Exigimos melhores salários que levaram ao fecho de centenas de empresas"... "Entupimos os hospitais por causa de simples dores de garganta"...
Pecámos e continuamos a pecar. Muito! E reincidimos, não nos emendamos. Que admira, pois, a ira divina dos mercados, a paciência esgotada dos deuses credores, a penitência imposta pelo Banco Central Europeu?
Eia, pois, ó pobres pecadores deste vale de lágrimas! Aplacai essa ira terrível. Cubri de cinzas a cabeça, vesti túnicas de burel, arrastai-vos até ao trono do altíssimo. Penai as vossas culpas, ó impiedosos carrascos do nosso deus tão ofendido! Dormi na palha, guardai castidade, fazei jejum.
Talvez assim venhais a merecer a divina misericórdia...
Dez pai-nossos e dez avé-marias! E o terço todos os dias!
1 comentário:
Certamente estamos a precisar de um profeta que, tal como o outro, peça ao altissimo, um pouco de clemência... é que talvez haja dez justos...
Certamente que o Sócrates e a sua camarilha, não podem pertencer a esse rol dos pecadores...
Eles nunca têm culpa de nada!...
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