Aquilino é a reserva natural da Língua Portuguesa. Lê-lo é perceber a dimensão dessa língua, hoje reduzida a um linguajar urbanóide de confrangedora pobreza.
Há muita gente que considera um desperdício os milhares de páginas de um bom dicionário. «Para quê tanta palavra, nós só usamos uma pequeníssima parte...». Aquilino usava quase tudo e ria-se dos que se queixavam de não o entenderem.
« Tirem umas pelas outras... No contexto acaba-se por perceber...» - teimava ele.
Para esses - e mesmo para outros que se consideram letrados - Aquilino Ribeiro é um exagerado regionalista, um provinciano que fala à moda beirã, incompreensível como os sertanejos do Brasil. Quando não se percebe e não se faz um esforço para se entender - os outros é que estão mal...
Mas leiam-se "A Casa Grande de Romarigães", "O Malhadinhas", "Andam Faunos pelos Bosques", "Terras do Demo", "Quando os Lobos Uivam" - e tantos outros, do romance à biografia, das memórias à História - e ter-se-á a certeza de que este foi um dos grandes obreiros da nossa Língua.
Colocá-lo no Panteão Nacional é lembrar a este povo, linguisticamente empobrecido por uma civilização de facilidade e comodismo, que afinal somos ricos: temos a quarta Língua mais falada do mundo e Aquilino foi um dos grandes cultores desse património colectivo.
2 comentários:
Méon,
mais do que reconhecimento a sua colocação no Panteão!!!!
Mestre Aquilino, um dos nomes que comecei a aprender nos primeiros anos de leituras, desvendou-me mundos maravilhosamente "reais"!!!!
Peca apenas, por tardia, esta distinção...
Também acho. Mas fez-se justiça. Esperemos, agora, que as suas obras sejam reeditadas, divulgadas, estudadas.
Quando me canso do mundo, regresso aos grandes clássicos: Camilo, Aquilino...
A tradução do D. Quixote pelo Aquilino é um monumento!
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