O homem está quieto, no fim de Setembro.
Os seus passos de neblina vão direitos ao amor.
Rodeiam-no. Tem febre, os olhos estão vagos.
É fim de tarde, retira-se.
Pode tocar uma guitarra inteira ou trabalhar a luz.
No dia anterior à aves
os animais voltavam a cabeça - era uma data, ruminavam.
Eu depositara no rio os peixes
com lentidão.
Aguardava ainda o princípio das estrelas.
O lugar da solidão sobre as frases interiores.
Mas os peixes inquietos absorviam o cor-de-rosa,
já todo o poente se inclinava.
Na árvore as guitarras revolviam-se
com harpejos imprescindíveis.
Toda a música resultava do calor suficiente.
Toca-se o amor com a chegada da pureza.
António Neves, A Construção do Rosto
2 comentários:
Méon,
Que poema LINDISSIMO!!!!
As palavras e os sons e a natureza!!!!
Não conhecia de todo!!!!
LINDO!!!
"Brigados" por este post e pela àgua...
UMA NOITE BOA, PARA TI!
As palavras apanhadas fora do seu contexto "normal" ganham uma dimensão inesperada. Essa a força deste poema de que gosto muito também.
Dia bom!
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