22.10.07

POEMAS DE MÃO EM MÃO (IV)



TEMPO




O tempo é um velho corvo
de olhos turvos, cinzentos.
Bebe a luz destes dias só dum sorvo
como as corujas o azeite
dos lampadários bentos.


E nós sorrimos
pássaros mortos
no fundo dum paul
dormimos




Só lá do alto do poleiro azul
o sol doirado e verde,
o fulvo papagaio
(estou bêbedo de luz,
caio ou não caio?)
nos lembra a dor do tempo que se perde.
Carlos de Oliveira (1921 / 1981)







2 comentários:

avelaneiraflorida disse...

Carlos de Oliveira...sim!

ele compreende o turvo da noite...

Joaquim Moedas Duarte disse...

Redescobrir este autor! Morreu há 26 anos mas a sua escrita está actualíssima. Porque ele a depurou até à exaustão.